Peço desculpas mas essa nota é somente pra ganhar tempo e escrever algo mais produtivo. Isso nada mais é do que um sinal de que não tenho conseguido aproveitar as reuniões como antes.
NOTA #10 [01/04/2020] (RJ I)
O coletivo mudou bastante do que era no início pra agora, mas o que o CEII tem que sempre se manteve constante?
NOTA #9 [01/04/2020] (RJ I)
Questões para a história do CEII:
1) Como circulava no coletivo a participação à distância no período em análise?
NOTA #8 [01/04/2020] (RJ I)
Questões para a história do CEII:
1) Qual a influência da Nova Crítica do Valor nessa fase de constituição do coletivo?
NOTA #6 [08/04/2020] (RJ I)
Existe alguma similaridade estrutural entre o CEII e outras organizações comunitárias, como associações de moradores e ONG’s?
NOTA #3 [22/04/2020] (RJ I)
Tese 4
“Lutai primeiro pela alimentação e pelo vestuário, e em seguida o reino de Deus virá por si mesmo”.
Hegel, 1807
A luta de classes, que um historiador educado por Marx jamais perde de vista, é uma luta
pelas coisas brutas e materiais, sem as quais não existem as refinadas e espirituais. Mas na
luta de classes essas coisas espirituais não podem ser representadas como despojos
atribuídos ao vencedor. Elas se manifestam nessa luta sob a forma
da confiança, da coragem, do humor, da astúcia, da firmeza, e agem de
longe, do fundo dos tempos. Elas
questionarão sempre cada vitória dos dominadores. Assim como as
flores dirigem sua corola para o sol, o passado, graças a um misterioso
heliotropismo, tenta dirigir-se para o
sol que se levanta no céu da história. O materialismo histórico deve ficar atento a essa
transformação, a mais imperceptível de todas.
Teses sobre o conceito de história (1940) – Walter Benjamin
NOTA #2 [22/04/2020] (RJ I)
Tese 12
“Precisamos da história, mas não como precisam dela os ociosos que passeiam no jardim da ciência.”
Nietzsche, Vantagens e desvantagens da história para a vida
O sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e
oprimida. Em Marx, ela aparece como a última classe escravizada, como a
classe vingadora que consuma a tarefa de libertação em nome das
gerações de derrotados. Essa consciência, reativada
durante algum tempo no movimento espartaquista, foi sempre inaceitável
para a social-democracia. Em três decênios, ela quase conseguiu
extinguir o nome de Blanqui, cujo eco abalara o século passado. Preferiu
atribuir à classe operária o papel de salvar gerações
futuras. Com isso, ela a privou das suas melhores forças. A classe
operária desaprendeu nessa escola tanto o ódio como o espírito de
sacrifício. Porque um e outro se alimentam da imagem dos antepassados
escravizados, e não dos descendentes liberados”.
Teses sobre o conceito de história (1940) – Walter Benjamin
NOTA #1 [22/04/2020] (RJ I)
Eu gostei bastante da ideia do CEII como um espaço funcionando pela
lógica do superego materno na última reunião. Que o CEII mais seja para
que os membros pautem o coletivo, e não que o coletivo dê as pautas aos
membros. E daí remetendo ao modo de organização política no CEII,
apareceu na última reunião a ideia de que a proposta-CEII não é muito a
da lógica partidária de uma instrumentalização dos membros uns pelos
outros (organizar e ser organizado), mas mais um compromisso com um
espaço comum, o qual fornece os meios para que cada um alcance seus
diferentes fins (talvez um tipo de terceiro termo em relação ao binômio
entre organização que é um fim em si mesma e à qual os membros ‘servem’,
e a organização que é apenas um meio para atingir um fim maior comum,
como o comunismo).Assim, a lógica do CEII talvez fosse mais
de fazer o comum aparecer como o próprio espaço cultivado pelos membros
para ajudar todxs a alcançar seus fins (o florescimento das
individualidades sob o comunismo?).
Outra ideia
interessante foi a da relação do CEII com o tempo. Pensando que o
capitalismo tardio funciona por uma lógica espacial dispersa, de excesso
de estímulos simultâneos que escapam à síntese, e não nos permitem
visualizar uma narrativa estruturada, o CEII talvez funcione com uma
contra-lógica, procurando temporalizar essa lógica espacial, organizar
historicamente a lógica dos acontecimentos. Poderia ser essa uma
estratégia para parar de reagir aos acontecimentos postos pela oposição
(gritos de ‘não passarão!’), e começar a usar esse histórico estruturado
para pensar projetos de futuro? Será que as notas servem para construir
essa memória como “ferramenta revolucionária”? Será que essa ideia é só
consequência do meu narcisismo tentando me convencer de que estou
‘fazendo a revolução’ ao escrever notas?
NOTA #6 [08/04/2020] (RJ I)
Dito tudo o que foi dito nas notas 1 e 2 sobre a composição artista-trabalhador, sugiro que voltemos ao texto “O fim da organização” para entendermos melhor este espaço que o CEII ocupa e 1- como a suspensão do objetivo emancipatório pode em si mesma ser uma emancipação; 2- como essa emancipação temporária não seria cooptada como justamente desmobilizando da “luta maior”, que pediria adiamento da gratificação para o momento de realização do comum.
NOTA #7 [01/04/2020] (RJ I)
Continuando a nota sobre a ética do CEII e a possibilidade de uma composição artista-militante.
Pensando
nesses assuntos, escrevi o seguinte texto, em colaboração com um amigo,
que tem a tese do “artista falido” como categoria diferente da de
“artista”. Isso torna a idéia um tanto engraçada, porque então a maioria
dos artistas não são artistas e sim “artistas falidos”. A idéia é que o
artista falido é um trabalhador assalariado sim, e o faz pelos mesmos
motivos dos trabalhadores não-artistas e mais o motivo suplementar de
sustentar a própria arte (compra de materiais, livros, etc).
Diferentemente do capitalista, mas, de fato, próximo do
micro-empreendedor que pretende simplesmente manter a própria
subsistência, o artista-trabalhador trabalha como os outros e trabalha
também tendo em vista o tempo liberado que poderá produzir um dia
para a própria arte- e, se tiver sorte, por meio dela. Assim, o fato de
ele se dividir entre trabalho assalariado e arte o coloca como alguém
que deposita as esperanças no trabalho para liberar o tempo para a arte,
e na arte para liberar o tempo de sua submissão ao trabalho.
Isso nos lembrou o trecho de Marx citado num texto importante do CEII- “O fim da organização”.
Cito:
Os trabalhadores se reúnem e apropriam-se “de uma nova carência, a carência de sociedade, e o que aparece como meio, tornou-se fim. (…) Nessas circunstâncias, fumar, beber, comer, etc. não existem mais como meios de união ou como meios que unem. A companhia, a associação, o entretenimento, que novamente têm a sociedade como fim, basta a eles; a fraternidade dos homens não é nenhuma frase, mas sim verdade para eles, e a nobreza da humanidade nos ilumina a partir dessas figuras endurecidas pelo trabalho.”[1]
E nosso texto continua:
“Esta reversão entre meios e fins[2]– a reunião e organização como um meio para a revolução se torna um fim em si mesmo, malgrado ser malvista por algumas pessoas engajadas na militância como uma desativação do ímpeto revolucionário, exibe não a confraternização como solução e desativação das demandas de emancipação e sim como lugar onde a carência desta associação, prazer, entretenimento, em suma, se torna visível a todos, e na prática artística essa carência encontra uma realização possível. Uma carência que não é do tempo livre determinado pelos limites do tempo do trabalho, mas do tempo liberado. Uma carência que, ao ter sua existência enquanto carência admitida, pode vir a ser motivadora para o exercício da transformação social.
2. Não se trata de apenas compreender as condições do sistema de arte, mas de transformá-las. A constituição da composição artista-trabalhador é a constituição da organização autônoma onde são temporariamente suspensos os imperativos e demandas de sobrevivência de cada um. A organização é a obra e a teoria e o prazer e a vivência. O tempo da construção do futuro é o tempo livre que se torna liberado. O mapa dessa transformação só poderá ir sendo recolhido pelo exercício da própria organização.
3. O artista trabalha por salário para liberar o tempo para a arte, e faz a arte para conseguir um dia se liberar do tempo do trabalho. Das duas maneiras o fato de haver uma disjunção interna na sua vida de trabalhador e artista mostra um horizonte de demandas possível- o do tempo liberado- que se confunde com a conquista do comum. Esse horizonte só se faz presente por meio da consciência da falta- que não é simplesmente a falta que existe, embora não saibamos, mas a falta que é sentida como falta quando temos o gostinho da liberdade permitida pelo tempo livre.”
A
pergunta que fica é: de que maneira concretamente se pode constituir
uma organização que faça a composição do artista e do trabalhador, se
utilizando desse espaço da “inutilidade” que une um e outro como
carentes e despossuídos?
[1] Marx- “Manuscritos econômico-filosóficos”, pp 145-46
[2] Círculo de Estudos da Idéia e da Ideologia. “O fim da organização” https://lavrapalavra.com/2016/05/20/o-fim-da-organizacao/